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Sequestro Corneal Felino

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Eudes Candido

Imagem: Dra. Geovana (@dra_geovana_oftalmo_vet)

O sequestro corneal felino é uma degenerescência da córnea bastante frequente em gatos, embora também existam alguns relatos em cavalos e cães. Caracteriza-se pelo aparecimento de uma placa no estroma corneal com coloração que varia entre âmbar e negro, geralmente localizada central ou paracentralmente e muitas vezes associada a outras alterações oculares como dor, epífora, conjuntivite, ulceração, neovascularização e edema corneal. Não existe predisposição de gênero nem etária, afetando gatos de todas as idades, com a exceção dos neonatos. Raças braquicefálicas são mais suscetíveis ao desenvolvimento do sequestro corneal, embora as raças Siamês e Birmanês sejam igualmente predispostas. A etiologia e a patogênese da doença ainda não são bem conhecidas, embora já tenham sido identificados diversos fatores predisponentes para o seu desenvolvimento, nomeadamente alterações oculares que provocam irritação crônica e erosão da córnea e onde se incluem entrópio, ceratite herpética, ceratite de exposição e alterações qualitativas e quantitativas da produção lacrimal.

Aspectos clínicos: O animal com sequestro corneal manifesta desconforto, evidenciado por epífora e blefaroespasmo, que cursam com hiperemia conjuntival e quemose. Uma vez crônica, a lesão torna-se densa, com bordas destacadas do estroma subjacente. Evidenciam-se, ainda, vascularização e edema perilesional. Ao teste da fluoresceína, não há retenção do corante, exceto nas margens da lesão. Ao teste com o corante rosa bengala ou lissamina verde, este impregna-se à lesão, caracterizando degeneração grave de ceratócitos.

Diagnóstico: O diagnóstico baseia-se na característica clínica da lesão, que é patognomônica, podendo, no entanto, variar entre uma área mal definida e ligeiramente escurecida a uma placa negra bem delimitada na camada subepitelial da córnea, com uma superfície lisa ou rugosa.

Causas: A causa ainda não foi muito bem elucidada, mas sabe-se que traumas, alterações anatômicas como o entrópio, cerato conjuntivite seca, infecções virais como a por Herpes Vírus Felino Tipo 1 (HVF-1), dentre outras, possuem fortes influências no desenvolvimento do sequestro corneal. Ainda devemos considerar uma predisposição natural em algumas raças, como a Persa, o que leva-se a admitir uma possível predisposição genética.

A presença de doenças concomitantes suporta a hipótese de que o sequestro inicia-se por uma irritação da córnea e com lesão tecidual subsequente. Felinos com úlcera de córnea indolente sem o tratamento adequado desenvolvem um grande risco de apresentar sequestro corneal no estroma exposto. Em um estudo realizado por Morgan (1994), 66% dos felinos afetados apresentavam, antes de desenvolver o sequestro corneal, úlcera de córnea e/ou algum processo irritativo corneal.

A partir de um estudo, realizado por Nasisse (1997), observou-se a presença do HVF-1 em 86 córneas das 156 testadas com sequestro corneal. O que reforça a participação do HVF-1 no desenvolvimento do sequestro corneal.

Tratamento: O sequestro corneal pode, invariavelmente, ter uma remissão espontânea. Porém, isso só costuma ocorrer em casos onde o tecido necrótico atinja mais superficialmente o estroma corneano e a sua remissão pode ser temporária, podendo observar recidivas mais comumente nesta situação. Uma opacidade gerada pela cicatrização geralmente é maior do que quando realizado o tratamento cirúrgico.

O mais indicado é o tratamento cirúrgico, onde existem muitas técnicas disponíveis que podem ser aplicadas, que são associadas a ceratectomia. A mais conhecida para este caso é a ceratectomia com recobrimento de um flap conjuntival pediculado. Com esta técnica, o processo de cicatrização é mais rápido, facilitando a administração de fármacos no pós-operatório, bem como a visualização da área afetada durante a recuperação do paciente.

Existem outras técnicas que podem ser empregas no tratamento cirúrgico do sequestro corneal, como transposição corneoconjuntival, ceratoplastia lamelar heteroplástica, Ceratoplastia penetrante heteroplástica (indicada quando a lesão se estende até à membrana de Descemet ou quando ocorre perfuração corneal), transplante de membranas biológicas alternativas, dentre outras.


Referências Bibliográficas

  • Cullen, C. L., Wadowska, D. W., Singh, A., & Melekhovets, Y. (2005). Ultrastructural findings in feline corneal sequestra. Veterinary Ophthalmology, 8(5), 295-303.
  • Dubielzig, R. R., Ketring, K., McLellan, G. J., & Albert, D. M. (2010). Veterinary ocular pathology: A comparative review. Philadelphia, USA: Elsevier Limited.
  • Galera, P. D., Falcão, M. S. A., Ribeiro, C. R., Valle, A. C. V., & Laus, J. L. (2008). Utilization of the aqueous extract of Triticum vulgare (Bandvet®) after superficial keratectomy in domestic cats afflicted with corneal sequestrum. Ciência Animal Brasileira, 9(3), 714-720.
  • Laus, José Luiz. Oftalmologia clínica e cirúrgica em cães e gatos. Edit. Roca. 2007. São Paulo. Cap 9, pg. 204.
  • Moore, P. A. (2005). Feline corneal disease. Clinical Techniques in Small Animal Practice, 20(2), 83-93.
  • Moreira, Ana Rita Lopes, Sequestro Corneal Felino: Estudo Retrospectivo. 2015. 73f. Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária – Universidade de Lisboa, 2015.
  • Morgan, R. V. Feline corneal sequestration: a retrospective study of 42 cases (1987-1991). Journal of the American Hospital Association, Lakewood, v. 30, n. 1, p. 24-28, 1994
  • Nasisse, M. P. et al. Experimental Ocular herpesvirus infection in the cat. Investigative Ophthalmology & Visual Science, Philadelphia, v. 30, n. 8, p. 1758-1768, 1989.

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